É normal,
antes de cada Sínodo dos Bispos, auscultar os diferentes episcopados sobre a
problemática a debater. Mas, desta vez, foi diferente, de tal modo que os media
mundiais deram e dão imenso relevo ao tema. Que se passa?
Por um lado,
o Papa Francisco não dirige o seu inquérito apenas aos cardeais, bispos,
padres. Ele quer que todos sejam ouvidos, que o inquérito chegue às bases,
pois, como constantemente acentua, a Igreja somos nós todos. Ele tem uma visão
da Igreja enquanto um Nós, Povo de Deus. Por isso, não mantém uma concepção
vertical de governo da Igreja, mas sinodal (a palavra é rica, quando se atende
ao étimo grego: reunião, caminhar juntos, fazer juntos o caminho). No fim, será
ele, em última instância, a decidir, mas sinodalmente, não separado dos outros
bispos nem dos fiéis.
Por outro
lado, sendo a próxima Assembleia do Sínodo sobre a família, Francisco quer
saber o que pensam os católicos sobre esse tema fundamental e decisivo, sem
ocultar as questões, mesmo que difíceis e fracturantes.
Assim, quer
saber o que é que os católicos sabem da concepção da Igreja sobre a família e
se essa doutrina é aceite. Que é que se pensa sobre o fundamento natural da
família? Aceita-se o conceito de lei natural com relação à união entre o homem
e a mulher? Como enfrentar os desafios que se colocam no caso de não
praticantes ou não crentes pedirem o matrimónio? Que caminhos pastorais se tem
seguido na preparação dos casamentos, no sentido da oração em família e
transmissão da fé às novas gerações pelas famílias, e em relação a casais em
crise?
Francisco
não ignora situações matrimoniais difíceis. Por exemplo, a convivência
experimental, uniões livres de facto. Como vivem os baptizados as suas
irregularidades? São conscientes delas, manifestam indiferença, vivem com
sofrimento a impossibilidade de receber os sacramentos? Quantas são as pessoas
divorciadas e recasadas e que pedem os sacramentos da eucaristia e da
reconciliação? A simplificação do processo de declaração de nulidade do vínculo
matrimonial poderia ajudar nestes casos? Que pastoral existe para estas
situações?
O Papa
também quer saber se no respectivo país há uma lei civil que reconhece as
uniões de pessoas do mesmo sexo equiparadas ao casamento. Que pastoral para as
pessoas que escolheram viver segundo este tipo de uniões? Se adoptaram
crianças, como comportar-se em ordem à transmissão da fé? Em geral: no quadro
de situações matrimoniais irregulares, com que atitude se dirigem os pais à
Igreja no sentido da educação religiosa dos filhos e que prática sacramental
existe nestes casos?
Quanto à
abertura dos esposos à vida: que conhecimento têm da doutrina oficial da Igreja
sobre a paternidade responsável e que avaliação fazem dos diferentes métodos de
regulação dos nascimentos? Que métodos naturais promove a Igreja? Que
consequências tem a prática dos anticonceptivos na participação dos
sacramentos, nomeadamente, na eucaristia? Como favorecer o aumento dos
nascimentos? A família é um lugar privilegiado para o encontro com Cristo?
A pergunta,
agora, é como procederão as Conferências Episcopais para que todos os
interessados possam participar. Por exemplo, entre nós, teoricamente há pelo
menos cinco milhões de católicos que poderão responder. Quem e como vai
fazê-lo, para que haja na Igreja uma tomada de consciência real do que se
passa?
Só dentro de
dois anos saberemos as resoluções que Francisco tomará. Mas não é impossível
antecipar linhas de orientação - no próximo sábado, apresentarei as minhas
respostas pessoais. 1. Evidentemente, a Igreja continuará a afirmar o seu ideal
de matrimónio: uma união definitiva e fiel de amor entre um homem e uma mulher,
aberta à procriação. 2. Nenhuma criança será discriminada, seja qual for a sua
origem. 3. Alguma abertura aos anticonceptivos, com a revisão da Humanae Vitae.
4. Admissão dos recasados, dentro de certas regras, à comunhão. 5. Maior
compreensão e acolhimento dos homossexuais, mas sem admissão institucional ao
casamento e à adopção.
Anselmo
Borges
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