O
Presidente dos EUA congratula-se pelos méritos da diplomacia. Israel lamenta
"erro histórico". Começam agora seis meses para negociar um acordo
final.
Um
acordo potencialmente histórico e com um alcance que ninguém tinha antecipado
sobre o programa nuclear iraniano foi anunciado na madrugada de domingo. Por
volta das três da manhã, os ministros dos Negócios Estrangeiros do Irão e do
grupo 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações
Unidas e a Alemanha) anunciaram a conclusão, após uma maratona negocial, de um
acordo preliminar.
Um
acordo potencialmente histórico e com um alcance que ninguém tinha antecipado
sobre o programa nuclear iraniano foi anunciado na madrugada de domingo. Por
volta das três da manhã, os ministros dos Negócios Estrangeiros do Irão e do
grupo 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações
Unidas e a Alemanha) anunciaram a conclusão, após uma maratona negocial, de um
acordo preliminar.
Analistas
sublinham a enorme importância do acordo, ainda que este deva vigorar apenas
durante seis meses, já que se segue a uma década de profunda desconfiança,
linhas vermelhas, recusas teimosas, manobras vistas como destinadas a ganhar
tempo, e ofertas vistas como enganadoras.
A
solução encontrada teve os ingredientes necessários para o sucesso: ambos os
lados — neste caso o Irão e os EUA — puderam apresentá-lo como uma vitória
perante as suas opiniões públicas, uma parte das quais está descrente no
sucesso das negociações e preferia uma via mais dura e intransigente.
Para
o Irão era importante continuar o enriquecimento de urânio, a 5% (a República
Islâmica queria um reconhecimento explícito do seu direito ao enriquecimento e
obteve um reconhecimento de facto), e conseguir um alívio das sanções (apesar
de ser limitada, a suspensão acordada vale sete mil milhões de dólares).
Mais
importante para os EUA era colocar limites à progressão da capacidade de
enriquecimento (e conseguiu a suspensão de funcionamento de partes vitais de
estruturas de enriquecimento, e até a destruição do stock de urânio enriquecido
a mais 20%) e ter uma mais apertada vigilância da Agência Internacional de
Energia Atómica (AIEA) para garantir que o país não chega à capacidade nuclear
militar em segredo (estima-se que a AIEA faça actualmente visitas semanais às
instalações nucleares iranianas, com este acordo poderá fazer inspecções
diárias).
O
acordo foi obtido após um falhanço há duas semanas — já estavam os ministros
dos Negócios Estrangeiros em Genebra num esforço de entendimento final quando
as conversações foram interrompidas, embora não o tenham sido nem pelo Irão nem
pelos EUA mas por uma exigência de França.
Maratona
de 18 horas
Nesta
última ronda, foram quatro dias de conversações que culminaram numa sessão
final de 18 horas. Por volta das três da manhã, a União Europeia anunciava um
acordo via Twitter, e pouco depois os iranianos faziam o mesmo.
O
Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não demorou a defender o acordo.
“A diplomacia permitiu abrir um caminho no sentido de um mundo mais seguro”,
disse Obama, a partir da Casa Branca. A oposição interna é grande — o Congresso
preparava-se para discutir uma nova ronda de sanções — e aumentada pela reacção
de dois aliados chave de Washington: Telavive e Riade.
De
Israel, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, foi rápido a criticar “um erro
histórico”, alegando que este é “um mau acordo”. Da Arábia Saudita não havia
reacções oficiais, mas um conselheiro de política externa saudita disse que as
pessoas na região iriam “perder o sono” com um acordo.
Como
diz Aaron David Miller, antigo responsável e negociador do Departamento de
Estado, é difícil quando dois dos mais próximos aliados dos EUA no Médio
Oriente parecem ter mais em comum um com o outro do que com a América.
Estas
críticas poderão fortalecer a oposição interna nos EUA que parece apresentar o
desafio mais imediato a este acordo: será que o Congresso desiste de aprovar
novas sanções contra o Irão? Se aprovar novas medidas punitivas, muito
dificilmente o acordo de ontem poderá manter-se. O editor de América da BBC,
Mark Mardell, lembra que este Congresso foi o mesmo que impediu uma acção
militar limitada na Síria e que levou à paralisação do Governo federal.
Apesar
de ter ido mais longe do que muitos esperavam, há que não perder de vista que
este é um acordo interino. O seu maior objectivo é permitir um certo
restabelecimento de confiança e ganhar tempo para negociações. O seu sucesso
será medido pelo que se vai passar nos próximos seis meses que se espera que
durem as negociações.
Mark
Fitzpatrick, perito em não-proliferação do Instituto Internacional de Estudos
Estratégicos, comentou: “É um acordo melhor do que eu pensei que seria. Não me
apercebi de que a verificação seria tão extensa”, cita o diário britânico The
Telegraph. “Estão a aumentar o tempo de que o Irão precisaria para construir
uma arma nuclear: diria que estão pelo menos a duplicar este prazo. E se não se
tivesse feito nada, os iranianos iriam reduzi-lo para metade”, considera.
"O
acordo interino é forte”, já que as restrições e verificações ao programa
nuclear “são mais fortes do que alguma vez tinha sido pensado”, comentou
Suzanne Maloney, da Brookings Institution, à agência francesa AFP. Mais: a
limitação das sanções é ainda pequena, de modo a deixar o Irão empenhado “num
processo diplomático em que a recompensa maior se mantém adiada até que se
consiga um acordo mais alargado”..
Claro
que ao alargar o leque da negociação, os obstáculos começam a ter outra
dimensão. “As complexidades vão ser maiores”, comenta Kenneth Pollack, também
da Brookings. “As concessões que cada lado terá de fazer serão mais
dolorosas.".
Joel
Rubin, da fundação Ploughshares Fund, que lidera campanhas contra a
proliferação de armas nucleares, químicas e biológicas, pegou nas palavras do
secretário de Estado dos EUA, John Kerry: “Kerry disse que o trabalho árduo
começa agora e de um certo modo realmente é isso.”
//Publico
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