A manhã do primeiro dia da semana deixa
transpirar um ambiente novo, segundo narra São João. Jo 20, 1-9. Ao desânimo do
Calvário sucede o ardor diligente de Madalena, de Pedro e do discípulo que
Jesus amava. Ao silêncio da morte sofrida responde o hino vibrante da vida
nova. Ao túmulo fechado pela pedra corresponde agora o sepulcro aberto,
“escancarado”, vazio pela ausência de quem lá tinha sido depositado. A
desolação dolorosa e mortiça dá lugar à curiosidade efervescente avivada pela
saudade.
A escuridão do espírito começa a
dissipar-se pela luz da aurora nascente. A vontade deixa-se moldar pelo ritmo
do coração. E um novo movimento acontece: a corrida da Páscoa que iniciada em
Jerusalém comporta um dinamismo envolvente de todo o mundo e de toda a
história. O Senhor ressuscitou. A morte foi vencida. A causa defendida por
Jesus é oficialmente confirmada por Deus. O presente abre-se a um futuro
radioso que se antecipa. A esperança germina e floresce em situações humanas
concretas. As flores da vida nova estão por aí, não as vedes? E não conseguis
do que vedes ao que não vedes?
Os protagonistas da narrativa de João
constituem o rosto de quem faz este percurso. A corrida física ao túmulo
manifesta a sua corrida interior e espiritual: Desinstalar-se e pôr-se a
caminho, acolher dúvidas e procurar respostas, remover preconceitos e
identificar sinais, deixar-se guiar pelo coração e iluminar pela razão, aceitar
a nova visão que desponta com a fé inicial, crer nos ensinamentos das
Escrituras, reconhecer a presença de Jesus ressuscitado no encontro fraterno e
celebrativo, partir em alegre e criativa missão de anunciar a Boa Nova que dá
sentido pleno a toda a vida.
As sementes da Páscoa germinam, hoje, na
alegria de viver, na paciência da esperança, no amor de doação, na ousadia da
confiança, na relação próxima do voluntariado, no esforço abnegado dos
empreendedores solidários, nas ditosas mães e pais de família, no serviço
respeitoso e criativo dos prestadores de cuidados, na participação consciente
das celebrações litúrgicas e sacramentais, na sabedoria dos idosos, na coragem
dos mártires que dão vida a gestos e atitudes que pareciam ter passado
definitivamente.
A nova Páscoa abrange toda a criação. A
natureza, nas suas múltiplas facetas, multiplica e exibe os seus sinais de
festa e reveste o seu “traje de gala”. A primavera dá-lhe brilho e cor. Junta a
sua energia vigorosa à vida nova de Jesus, fruto da doação total. Canta de
esperança e celebra um presente florido que anuncia um futuro jubiloso. A vida
triunfa da morte como a primavera supera o inverno. Os sinais festivos
multiplicam-se um pouco por toda a parte e os corações humanos abrem-se ao
suave aroma pascal. O amor mostra-se em toda a sua beleza. As boas festas
pascais – que nos damos uns aos outros – expressam o ritmo dos nossos corações
em sintonia com a primavera da natureza e com a onda entusiasmante do Senhor
ressuscitado. E alimentam a vida nova que a corrida da Páscoa nos faz encontrar
e saborear.
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