Talvez existem e por isso vale a pena
recordar que os conselhos são como as vacinas, dão-se para evitar aquilo que
não se deseja, seja problemas ou doenças, e em muitos casos uma única dose não
é suficiente e são precisas uma 2ª ou 3ª dose para se obter o efeito desejado.
Em casos excepcionais podem ainda ser necessário reforços de tempos em tempos.
Por esta razão pode ser útil prepetir aqui alguns conselhos que nos parecem
vigentes e pertinentes nestes momentos conturbados que a Guiné-Bissau ainda
atravessa. Vale a pena insistirmos nos conselhos que se seguem, até que se
vejam refletidos na forma de pensar e de agir de todos os cidadãos do nosso
país e com maior rigor e ênfase nos políticos, militares e em todos aqueles que
aspiram a ser líderes na nossa sociedade.
DIÁLOGO,
CONSENSOS E RESPEITO ENTRE TODOS
"PALAVRAS
DE ORDEM"
"... ensinaram-me uma vez, aprendi
e nunca mais esqueci, que, quando se está numa situação de conflito, "a
razão não é tudo" e que, se nestas circunstâncias de conflito alguém se aproximar
de nós e nos diz assim: "tu tens razão, mas deves deixar"; esta
pessoa é nossa amiga e devemos parar para ouvi-la melhor...
É minha, e acredito ser também vossa, a
convicção de que resolver um problema quer da matemática ou da vida implica em
primeiro lugar compreendê-lo para poder equacioná-lo, criar um esquema mental e
definir etapas ou caminhos para encontrar a solução. E logo resolver
acertadamente cada passo até chegar à solução certa.
Um entendimento igualmente válido e que
com certeza partilhamos é o mesmo daquele que querendo concertar uma máquina
estragada sabe que tem primeiro que ter o conhecimento dos mecanismos do seu
funcionamento e disfuncionamento para saber como fazer e poder procurar os
instrumentos adequados. E quando se trata de máquinas complexas, onde por
exemplo estão integrados os sistemas mecânicos e electrónicos, é preciso ainda
mais, ou seja, tem que compreender também a relação ou vínculo entre os dois
sistemas. Nem sempre uma avaria se localiza no sítio que não funciona.
A sociedade é um sistema ainda mais
complexo que as máquinas complexas porque as suas "peças" têm ideias,
sentimentos e necessidades, e além disso, estão em mudanças constantes: de
número, de perfil e de campo, etc...
Os conflitos têm melhor perspectiva de
solução quando o bom senso leva as partes a se esforçarem minimamente em
reconhecer a razão da adversária; mas eles podem agravar-se quando as emoções,
a falta de discernimento ou má fé impedem qualquer reconhecimento das causas e
motivações da outra parte...
Devemos ser os primeiros e os últimos
responsáveis na busca da solução da crise que nós criamos e dela devemos tirar
lições para um futuro melhor. Pedir ou aceitar ajuda, se for necessário, para
a resolução pacífica da crise, com base
numa mediação ou arbitragem idónea, imparcial e aceite pelas partes desavindas,
é um acto de coragem, de boa fé e de sabedoria, mas fugir à nossa
responsabilidade é má fé e é passarmos a nós mesmo certificado de
incompetência....
Os que assumirem o poder não devem preocupar-se
apenas em fazer bem só aquilo que satisfaça as suas ambições pessoais, nem
devem procurar ou encontrar pessoas para cargos relevantes para o Estado só no
círculo de seus familiares, amigos, etnia, religião, ideologia ou partido
político, porque este comportamento é uma forma de "juntar a lenha à
espera de quem traga o fogo"...
É insuportável e retrógrado ter uma
elite social ou política com extraordinária capacidade de reconhecer e colocar
defeitos nos adversários, mas com muito pouca capacidade de reconhecer virtudes
em quem quer que seja. Devemos ter atenção de que demasiada inveja e competição
pela negativa e muito pouca humildade torna o ambiente selvagem. Isto pode
levar a que em vez de ter que escolher entre o bom e o melhor somos obrigados a
escolher entre o mau e o pior. Deus há-de livrar-nos deste mal.
Não é tolerável na sociedade, e
sobretudo no cenário político, que prevaleçam fraquezas como o recurso à
mentiras, difamações ou intrigas, às desinformações, boatos ou complots, à má
fé e ao oportunismo como armas para atingir o poder, porque o poder conseguido
por estes meios nunca pode ter longevidade. Devemos tomar a consciência de que
estas fraquezas só se podem combater com acção psico-social e pedagógica e a
receita tem que ser endógena, quer dizer, não pode vir de fora, tem que partir
de dentro da sociedade.
Há que reconhecer que temos um belo
país, que é potencialmente rico, onde se consegue produtos para exportar mesmo
sem grandes sacrifícios, um país com lindos coloridos sociais e riquezas
culturais impressionantes, com um povo pacífico e acolhedor, onde neste momento
só falta o bom comportamento da sua elite política, militar e social. E este
bom comportamento depende de nós e só de nós, com a nossa consciência. O bom
comportamento que nos fará recuperar o prestígio, respeito e admiração, não vai
chegar por terra, ar ou mar, ou através dos bancos como chega a ajuda externa
ou financiamentos de países ou de organismos internacionais, nem pode vir como
as forças de interposição ou estabilização. O bom comportamento só poderá ser
produto da consciência, da tolerância e do trabalho nacional...
Os governantes e elites políticas não
devem excluir cidadãos com experiência, capacidade e idoneidade moral. Quer
isto dizer que os quadros, os políticos e governantes mais velhos ou reformados
devem merecer consideração, porque eles, tratados com respeito, podem
contribuir para a paz, o sossego e o desenvolvimento do país, mesmo que seja só
com ideias. É preciso recuperar o sentido de responsabilidade, de justiça e de
humildade, e entender que é um dever de todos lutar pela preservação do
testemunho histórico. As gerações não devem ser piores que aquelas que a
precederam e não se pode deixar-se cair no ciclo de recomeço permanente,
porque, se isso ocorrer, o tempo se encarregará de afundar a Nação...
Onde é recorrente crises ou conflitos
sociais pode ser justificada a criação de um sistema de alerta e prevenção,
assim como é feito para alerta e prevenção em zonas de sismos e vulcões. As
crises sociais e as guerras são piores que as catástrofes naturais, porque, além
da destruição, promovem a divisão e o ódio, e deixa sementes para conflitos
futuros; enquanto o terramoto, o vulcão e as inundações destroem, mas promovem
e reforçam a solidariedade e a união entre as pessoas. Quer-se sugerir com isto
a constituição de um órgão nacional para estudo, vigilância e prevenção de
conflitos políticos, militares e sociais. Este órgão deveria incluir, entre
outros, especialistas das ciências políticas, ciências sociais, psicologia
social, informação e outras figuras de reconhecido valor e influência na
sociedade..."
(Sublinhados do texto/reflexão carta
aberta "PELA GUINÉ-BISSAU" escrita em 2 de Maio de 2012 e publicada
no site Contributo).
RECONCILIAÇÃO
E REFORMAS, INCLUSÃO E TRANSPARÊNCIA "PROGRAMA MÍNIMO"
"... não desisto de querer ver a
paz e estabilidade na Guiné, entendimento e harmonia entre os guineenses, e de
ver todos a trabalhar em prol do desenvolvimento do país...
Há muito tempo, ainda quando era um
jovem estudante universitário, pude incorporar um conselho e um pensamento aos
quais algumas vezes tento perceber o alcance. O conselho dizia que estando numa
fase mais avançada, era bom, de vez em quando "rever os conhecimentos
passados", enquanto o pensamento dizia que, "o conhecimento não fazia
falta a ninguém se não fosse para melhorar a vida".
Imaginem, fui rever os primeiros
ensinamentos de aritmética com que todos nos confrontamos na escola primária,
logo na 1ª classe (ou 1º ano), e tentar encontrar algum significado ao facto de
nos ensinarem primeiro a soma (adição) e só depois a subtração; de nos
ensinarem a multiplicação e só mais tarde a divisão. Fiquei no final com a
ideia de que de coisas simples podemos tirar lições interessantes, assim como
de gente simples podemos colher ensinamentos importantes.
A soma ou adição significa juntar ou
unir, e na união é que está a força. Tornou-se fácil compreender por onde temos
que começar para resolver os problemas da nossa terra. Devemos todos entender esta
lição de termos que começar sempre pela união, porque doutra forma será
dramático. Subtrair é tirar, e não parece ser boa ideia tirar para que não
reste nada ou tentar tirar onde não há. Antes de tirar é melhor juntarmos
primeiro para que quando alguém decidir tirar porque se acha mais esperto ou
mais merecedor, ou entenda que tenha mais força ou mais astúcia, ainda reste
alguma coisa para os outros que não têm estes atributos.
Ai de nós se tentassem ensinar-nos a
divisão antes de sabermos a
multiplicação, nunca mais saíamos do mesmo sítio. Entenda-se que temos
primeiro que multiplicar as nossas capacidades, multiplicar os nossos recursos,
fazer crescer a economia do país, antes de entrarmos nas querelas da divisão.
Não adianta mesmo estar a precipitar a divisão antes da multiplicação, isto é,
estar a querer um pedaço maior quando o bolo ainda é pequeno e há muitos
pretendentes, porque daí só pode vir a desgraça. Antes que tudo, e bem melhor,
é unirmo-nos, juntar as nossas capacidades, energia e inteligência, a fim de
multiplicar a nossa produção, para obtermos um bolo maior e suficiente para ser
dividido por todos, de forma minimamente justa, para que, mesmo havendo aqueles
que hão-de levar pedaços maiores, não vá haver muitos que fiquem a morrer de
fome. Mais palavras para quê?
É verdade que no mundo de hoje abunda e
prolifera mais os que falam para dividir ou fazem para destruir do que aqueles
que falam para unir ou fazem para construir, por isso, não basta só poder ver,
é preciso saber ver, não basta apenas poder ouvir, é preciso saber ouvir.
Por tudo o que temos podido ver e ouvir,
seja no terreno directamente, como à distância, levou-nos a concluir que o mal
de que sofremos e todo este imbróglio que temos pela frente, deve-se ao
seguinte: a máquina que é a nossa sociedade
está avariada em vários sectores e sistemas. O sistema político e democrático
está avariado, o sistema de defesa, segurança e ordem interna também está
avariado, o sistema produtivo está engripado e não funciona em pleno, há
sobreaquecimento em quase todos os compartimentos e a corrente não passa. Os
restantes sistemas e sectores estão quase todos paralizados, mete água por todo
o lado e o risco de curto-circuitos é elevado.
Devido à avaria do sistema político e
democrático verifica-se um número excessivo de partidos políticos; muitos
partidos não fazem congressos e não cumprem os estatutos e regulamentos
internos, mas não deixam de ser partidos; regista-se com frequência fissuras e
cisões de partidos que se dividem e são capazes de fazer congressos por alas;
eleições gerais quase sempre contestadas por deficiente preparação, falta de
transparência e de garantias de acto justo e não fraudulento. É ainda por esta
avaria que em mais de vinte anos de democracia multipartidária, não se consegue
realizar nenhumas eleições autárquicas, e ainda como se todas estas avarias
fossem poucas, altas figuras do estado chegam a ser depostos ou assassinados em
pleno exercício de funções.
Devido à avaria do sistema de defesa,
segurança e ordem interna ocorrem com frequência purgas entre homens de armas,
conflitos entre militares e paramilitares, intimidações e abusos de homens
armados sobre indivíduos desarmados e indefesos; tornaram-se frequentes as
tentativas de golpes, "intentonas ou inventonas", golpes consumados e
contra-golpes, com altos custos para a sociedade, em termos de perdas e
prejuízos: perdas de vida humana, stress social, prejuízos à produtividade, à
estabilidade da governação e à estabilidade dos recursos humanos tão
necessários ao país, sobretudo pela emigração ou exílio forçado de quadros
qualificados, políticos e militares de alta patente.
Porque o sistema produtivo também tem
algumas avarias e não funciona em pleno, grande parte do nosso campo produz
muito abaixo das suas potencialidades; muitos dos que detêm propriedade de
terra falta-lhes meios, quando não, competência ou motivação, enquanto, muitos
daqueles que têm competência e motivação, falta-lhes terras ou meios. Pela
razão ainda desta avaria não se consegue avançar para a mecanização e
diversificação da nossa agricultura, o país é incapaz de ter a sua própria
frota pesqueira e se limita a distribuir licenças de pesca, não existindo
capacidade satisfatória de vigilância e controle das àguas territoriais e
recursos do mar; não se consegue pôr em marcha a exploração do potencial
turístico do país, e se tem adiado a exploração dos nossos recursos minerais;
importamos mais do que exportamos e continuamos a viver mais de "ajuda
externa" do que do "esforço interno", passando mais tempo e
tendo mais gente na inactividade, confusão e "kume mundo", que no
trabalho e produção.
Porque há sobreaquecimento de alguns
compartimentos, e porque a corrente não passa, e ainda por meter água por todo
o lado e haver riscos de curto-circuitos, tem-se registado graves tensões,
desconfianças, cumplicidades e problemas não resolvidos ou mal resolvidos,
sobretudo nos círculos do poder, com envolvimento de políticos e militares,
havendo demasiados processos crimes e de contornos pouco claros, em "stand
by" e ainda por resolver, não estando descartado tentativas de
"queima de arquivos", porque os verdadeiros criminosos, tal como os
verdadeiros ladrões, são quase sempre também mentirosos e intriguistas. Quem
não quer correr o risco de fazer um juízo errado, de condenar ou castigar um
inocente, tem que ponderar as suas acções e conclusões em busca da verdade e
prever o que fazer com ela.
Mas não merecemos estar todos reféns
destas coisas, nem o desenvolvimento do nosso país precisa estar hipotecado. O
que é mais importante, já agora, é compreendermos que qualquer que seja o
arranjo que se venha a dar à estas avarias, importa e é vantajoso que se
estabeleça para elas um mecanismo preventivo e seguro.
Todas estas avarias criam um terreno
fértil e atractivo para a invasão e proliferação do crime organizado, todos os
tráficos incluídos, de armas, de drogas e de seres humanos, etc., porque o
mundo está cheio destas maldições que "não pedem licença aos povos",
que tal como o tempo, "não esperam por ninguém" e da mesma forma que
a doença "avançam onde encontram fragilidades." O nosso povo não
merece nada disto e ninguém vai estar interessado em defender-nos mais que nós
próprios. Que com a cumplicidade da nossa divisão, o nosso país vá continuar a
ser vítima de criticas ou calúnias mais que de ajudas concretas para resolver
estes problemas, é quase certo; que não faltarão países amigos dispostos a
cooperar com o nosso nesta matéria, é também certo, mas devemos convencer-nos que temos que ser nós
a lançar
primeiro a mão para resolver estes problemas.
Se não estivessemos a falar numa
línguagem figurada e comparativa e a nossa sociedade fosse realmente uma
máquina com todas estas avarias, estariamos neste momento, quiçá, a pensar em
mandá-la para o lixo e arranjar outra, pelo trabalho que vai dar e os custos do
seu arranjo. Mas estamos a falar de uma sociedade em que, como acontece em
muitas outras, por má conduta de alguns, pagam todos.
Mas o que podemos fazer? O que vamos
fazer? Ficar à espera que tudo se arranje sozinho? Talvez seja uma hipótese que
alguns colocam por tomar consciência de
tamanhas avarias que parecem insolúveis. Esperar que outros venham arranjá-la porque
seremos incapazes? Não parece ser esta uma atitude digna. Arregaçarmos as
mangas e tentar fazer alguma coisa construtiva, ainda que não dispensando ajuda
de outros? Parece ser esta última, a atitude mais razoável e a que vai de
encontro ao seguinte espírito: todos temos o direito de viver em paz e em boa
ordem, e cabe-nos também o dever de honrar a memória da geração que nos
precedeu e de proporcionar um futuro melhor à geração vindoura.
De outra maneira, podemos mudar de
terra, emigrar temporariamente ou para sempre, mas o problema não fica
resolvido, e não podendo mudar a população da nossa terra, vamos continuar
sempre condenados a pertencê-la, a ser parte do problema e a pagar o que não
devemos. Também não adianta arrependermos de ter nascido ou de ter ascendência
naquela terra. Temos sim que reconhecer que temos necessidade e urgência de
reparar a nossa sociedade e a nossa terra destas avarias todas, sem excluir
ninguém à partida. Temos que conseguir trabalhar com todos e para todos. Temos
que poder ser capazes de voltar a sorrir, com sinceridade, uns para os outros,
o que não se consegue se continuarmos a
insultar-nos mutuamente, se continuarmos a guardar ódio e rancor uns aos
outros, a perseguir-nos uns aos outros ou a desconfiar-nos uns dos outros. Por
isso, ao ponto que chegamos com estas avarias, e o estado de espírito daí
resultante, e para conseguirmos dar a volta por cima e encarrar uma nova vida,
de sã convivência entre todos os guineenses e amigos da nossa Guiné, duas
condições prévias se impõe: RECONCILIAÇÃO E REFORMAS.
Não cruzemos os braços, nem fiquemos só
a contemplar os desenvolvimentos, porque a responsabilidade é de todos nós. E
se tudo aparentar estar bloqueado, parecendo difícil encontrar por onde
começar, não nos desesperemos, porque a certeza é que, Deus, onde colocou o
mal, também pós o seu remédio, e o único problema é só conseguir encontrá-lo.
A contribuição de cada um de nós, mesmo
que seja só com ideias construtivas e inclusivas, tem importância, como terão
os meios financeiros, militares ou outros, para o estabelecimento da paz,
estabilidade, segurança e desenvolvimento da nossa comunidade..."
(Sublinhados do texto/reflexão
"Crises da Guiné Bissau: Diagnóstico e Tratamento" de 20.12.2012,
publicada no site Contributo).
TODOS
PARA O DESENVOLVIMENTO E DESENVOLVIMENTO PARA TODOS "PROGRAMA MAIOR"
"... Não há desenvolvimento
sustentável sem segurança, e tratando-se de um país a segurança implica, em
primeiro lugar, uma estruturação lógica e capacitação do Estado com força e
autoridade moral que o torne respeitável e respeitado pelos cidadãos. Neste aspeto
a organização das forças militares e paramilitares e sua submissão ao poder
político é de capital importância. Mas segurança para um país, em sentido lato,
não se limita apenas ao papel reservado às forças militares e paramilitares,
porque inclui também segurança alimentar, segurança sanitária e segurança
social, ou seja, segurança nas diferentes fases ou situações de vida dos
cidadãos.
A segurança vista portanto nesta
perspetiva abrangente deixa claro que depende também da organização do Estado,
do trabalho de toda a sociedade e dos recursos de informação, conhecimentos e
saberes disponíveis. A necessidade da segurança tem de ser reclamada, a seu
tempo e em todas as suas vertentes...
Não pode haver desenvolvimento
sustentável e seguro onde não é de todos a obrigação de participar na defesa e
segurança do território ou onde o direito de participação na produção de bens e
na distribuição da riqueza nacional não é extensivo à todos os sectores ou
estratificações da sociedade...
Como o desenvolvimento é um processo na
qual interagem diversos sectores, torna-se importante a compreensão da forma
como o desempenho de um sector pode influenciar o desempenho de outros
sectores. Assim, um mau desempenho do sistema político pode condicionar
instabilidade política e militar, desorganizar diversos sectores, travar os
investimentos, deprimir a produção e fazer atrasar ou regredir a economia.
Contrariamente, melhor organização e desempenho do sistema político e
administrativo terá reflexos positivos no desempenho e equilíbrio de todos os
demais sectores da sociedade e favorece a produção e a economia, além de ter
uma contribuição positiva para a justiça, confiança e paz social. Melhor
educação é contribuição fundamental para melhor saúde e melhor produção, maior
consciência social e melhor intervenção política e social da população. Melhor
saúde confere à população maior capacidade produtiva e melhor qualidade de
vida. Melhor produção e melhor distribuição da riqueza nacional é garantia de
melhores possibilidades para a educação, para a saúde e para a segurança
social. Melhor organização e desempenho do sistema judiciário é imperativo para
a preservação da ordem social, para o reforço da autoridade do Estado e para a
promoção da estabilidade social e de tudo o que dele depende.
Pode haver desenvolvimento se o sistema
político e administrativo tiver estruturação e funcionamento racionais, se for
capaz de reunir consciência e mais-valias nacionais e se poder beneficiar de
conhecimentos e saberes necessários para proporcionar à sociedade condições de
paz, estabilidade, organização e justiça para que todos os demais sectores da sociedade
possam cumprir o seu papel.
Pode haver desenvolvimento se a
educação, a informação e a comunicação forem priorizadas, se tiverem qualidade
e se o acesso a elas for garantido à toda a sociedade no seu conjunto, sendo
elas instrumentos de aquisição, preservação e transmissão de conhecimentos e
saberes, além de constituírem meios de formação da consciência nacional e
motivação social.
Pode haver desenvolvimento se os
sectores de saúde, da justiça e da defesa e segurança forem priorizados à
altura das suas responsabilidades como sectores que estão na primeira linha da
proteção da sociedade contra doenças, desordem social, violência, desestabilização
e outras ameaças internas ou externas à integridade da nação.
Pode haver desenvolvimento se o sistema
produtivo e os restantes sectores da economia poderem beneficiar de
organização, recursos e gestão adequados, se tiverem acesso à conhecimentos,
saberes e informação avançados, se incluírem o máximo possível da população
ativa e se lograrem produção e distribuição de rendimentos, de forma a
assegurar pelo menos as necessidades da população em relação à alimentação,
alojamento, saúde e segurança social.
Cabe ao sistema político e
administrativo a responsabilidade de liderar ou orientar a sociedade na direção
certa do desenvolvimento, tarefa pela qual lhe é exigido qualidade e capacidade
de contribuir de forma decisiva ao restabelecimento da confiança e motivação
social, por via do exercício de identificação, análise e resolução de conflitos
socias e de outros fatores de bloqueio, de estagnação e de retrocesso do
desenvolvimento.
Esta confiança e a motivação social que
são indispensáveis para um desenvolvimento saudável, equilibrado e sustentável,
exigem vigilância, prevenção e combate sem tréguas às pragas que podem minar o
progresso de qualquer sociedade, tais como: impunidade e cultura de violência,
tribalismo, sectarismo, nepotismo, amiguismo, clientelismo, corrupção,
peculato, promiscuidade de negócios privados com negócios estatais, tráficos ilícitos,
intriga política, fraude eleitoral, compra de consciência, desrespeito ou
perseguição de adversários políticos, abuso de poder ou de autoridade,
desobediência militar, desvalorização de competências, não reconhecimento do
mérito, promoção do medo e da ignorância, fuga de capital, fuga ou emigração de
cérebros, de quadros e de outros trabalhadores qualificados, etc..."
(Sublinhados do texto/reflexão "
canetas, enxadas e armas" de 20.01.2014 e publicado no site Contributo).
Espero sinceramante uma vez mais que a
lembrança destas linhas também contribua para um reforço positivo de forma a
influenciar uma mudança de comportamentos no sentido que nos favorece.
Bem haja a todos!
Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.
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