
O desejo do Chefe de Estado foi tornado
público através do seu discurso ao povo guineense, no âmbito da comemoração do
dia da Independência Nacional, 24 de setembro, celebrado este ano sob o lema
“Um passado que serve para compreender o presente e construir um futuro
prospero”.
No entender do Chefe de Estado guineense,
para que isso aconteça “é fundamental que os guineenses aceitem a unidade
nacional, aceitem dialogar, aceitem cooperar uns com os outros e reconheçam que
a felicidade de uns não pode ser construída sobre a desgraça de outros”.
Sobre as eleições marcadas para o dia 18
de novembro, José Mário Vaz, disse que constituem uma oportunidade soberana
para o povo avaliar a prestação dos partidos políticos e a escolha daqueles que
entendem que melhor podem servir os seus anseios. Acrescentou ainda que “as
eleições são o momento no qual o povo é chamado a exercer diretamente o poder,
que lhe pertence, através da escolha dos seus representantes”.
“Queria aproveitar este palco por se
tratar de um momento importante na vida do nosso país, para apelar aos
guineenses, onde quer que estejam, para se recensearem, porque sem
recenseamento não poderão exercer o direito de voto, o direito único de se
expressarem nas urnas a vossa vontade afirmação plena da cidadania. É um dos
momentos de demonstração de igualdade de oportunidade porque “É Guine ku nô
djunta”, devemos todos ter o direito de fazer as nossas próprias escolhas”,
espelhou.
Eis na íntegra o discurso do Presidente da
República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz:
Hoje celebramos 45 anos sobre o dia
memorável, em que em Lugadjol, no Boé Oriental, pela voz do Comandante João
Bernardo Vieira, Nino, o nosso Povo proclamou solenemente a Independência da
nossa terra, afirmando perante o mundo a soberania da nossa Nação Africana
forjada na luta e, cumprindo assim a primeira parte do heroico legado do
Camarada Amílcar Cabral.
Este ano o lema escolhido para o Dia
Nacional é “Um passado que serve para compreender o presente e construir um
futuro prospero”, lema este que nos ajuda a reflectir e juntos trabalhar para o
futuro melhor.
Recordo e evoco hoje, todos os heróis e
mártires da Luta pela Independência da nossa pátria, homens e mulheres que
ousaram acreditar num sonho e ousaram lutar para que hoje sejamos a República
da Guiné-Bissau, com orgulho conquistaram a nossa identidade e a nossa
nacionalidade, simbolizado com o nosso hino e a nossa bandeira.
Por isso, expresso a eterna gratidão da
Nação aos nossos heróis, a todos os Combatentes da Liberdade da Pátria e às
nossas gloriosas Forças Armadas.
No seu testamento político, Amílcar Cabral
estabeleceu que “o objetivo fundamental da nossa luta é a conquista da
independência nacional e a construção, na paz e na dignidade reconquistadas, do
seu progresso verdadeiro, sob a direção exclusiva dos seus próprios filhos”.
Hoje, passados 45 anos, o Presidente da
República convoca todos os guineenses e sobretudo aos jovens a revisitarmos as
palavras do Pai Fundador da nossa Nacionalidade que, iluminando o caminho, nos
disse: “nós queremos a independência para sermos homens africanos em marcha
para uma vida melhor”.
Instado sobre as razões da independência
Amílcar Cabral afirmou, “Nós acreditámos que a nossa independência nos
permitirá desenvolver a nossa própria cultura, desenvolvermo-nos a nós
próprios, desenvolver o nosso país, libertando o nosso povo da miséria, do
subdesenvolvimento e da ignorância”.
Disse ainda “Nós queremos a independência
para fazer no nosso país tudo o que os outros fizeram na terra deles, a fim de
criarmos uma vida na qual não sejamos mais explorados pelos estrangeiros, nem
pelos próprios africanos”.
Era há 45 anos, os ideais do nosso saudoso
Camarada Amílcar Cabral. Infelizmente, continua a ser também os nossos ideais e
o roteiro para a construção de uma pátria de homens e mulheres dignos, na paz,
liberdade, justiça e progresso.
Porém, até hoje, no dia a dia da vida dos
guineenses pouco mudou e os valores intrínsecos da independência continuam por
realizar devido a falta de ambição para fazer avançar o país.
Devemos ter sempre presente que os
fundadores da nossa nacionalidade sonharam, lutaram e materializaram os seus
sonhos de outrora, em que trilharam o caminho para o futuro e conquistaram os
nossos símbolos nacionais, e hoje carregamos no peito o orgulho de ser guineense.
Um conselho aos jovens guineenses, na
vida, nada se faz sem ambição e sem esforço e nem existem fórmulas milagrosas
de fazer avançar um país, sem ser com trabalho e muito trabalho.
O nosso país enfrenta grandes desafios,
conseguimos juntos trabalhar para a paz e estabilidade, e agora temos que
construir o nosso futuro rumo ao desenvolvimento.
O futuro que nós almejamos, tem de passar
obrigatoriamente pela aposta nos jovens, por sinal, estão melhor preparados
para assumir os desafios dos tempos modernos.
Não podemos continuar a preocuparmo-nos
somente com o hoje, ou seja, o dia-a-dia, ignorando completamente o crescimento
e o desenvolvimento. Isto, só é possível através de boa gestão da coisa
pública, sobretudo respeitar o princípio do “Dinheiro do Estado no Cofre do
Estado”.
E diz o provérbio “saku limpu kata firma”
e fazendo paralelismo, com cofre de Estado vazio não podemos fazer nada pelo
nosso país, isto é, melhorar as condições do nosso povo a nível da saúde,
do ensino, das infraestruturas, energia
para todos, desenvolver a agricultura através de “mon-na-lama”, da fiscalização
da nossa zona económica exclusiva, entre outros sectores importantes para o
desenvolvimento do nosso país.
Guineenses;
Tenho dito, ninguém pode fazer mais pelo
nosso país do que os seus próprios filhos, temos que acreditar mais em nós e
nas nossas capacidades e ter orgulho de ser guineense.
O Presidente da Republica é um cidadão
inconformado com a miséria, o sofrimento e a ignorância a que o nosso povo tem
sido votado, após 45 anos de independência. Por isso, ao longo do meu mandato
eu tenho-me dedicado à consolidação da paz, ao apaziguamento dos ânimos, à
garantia das liberdades individuais e coletivas, ao combate aos males e vícios
estruturais da nossa sociedade, nomeadamente à luta contra a corrupção
endémica, o nepotismo e os desmandos, para assegurar a realização da justiça, a
igualdade e a libertação dos mais pobres e desfavorecidos, fustigados pela
exploração e pelas desigualdades.
Para que sejamos merecedores da luta
protagonizada pelos nossos antepassados e realizar os fins da independência, a
Pátria precisa de consensualizar um novo roteiro para cumprir os grandes
desígnios nacionais, para dar nova esperança aos guineenses.
Hoje, 45 anos depois da nossa afirmação
como Estado, lanço um desafio a cada cidadã e cada cidadão guineense: vamos
todos dar as mãos, definir um Novo Rumo e caminhar, juntos, pelo Caminho Certo.
O Novo Rumo que vos proponho é o da
construção de uma sociedade baseada no primado das capacidades, da competência
e do mérito. Queremos uma sociedade nova, baseada no trabalho para construirmos
o nosso futuro a partir do aproveitamento dos nossos próprios recursos, para o
bem-estar de todos, na paz, na igualdade, na justiça, na liberdade e na
solidariedade. Para tal é fundamental que os guineenses aceitem a unidade
nacional, aceitem dialogar, aceitem cooperar uns com os outros e reconheçam que
a felicidade de uns não pode ser construída sobre a desgraça de outros.
Recorrendo a memória recente, dos últimos
três anos caracterizados por desentendimentos entre as forças políticas que
culminaram com uma profunda crise político-institucional. Ultrapassada essa
fase, hoje caminhamos rumo a realização de novas eleições legislativas de
acordo com o nosso calendário eleitoral.
Apesar da crise político-parlamentar
vivida, é de salientar que pela primeira vez na história da democracia
guineense, uma legislatura chegou ao fim, sem interrupções originadas por
golpes de Estado ou outros incidentes. As Forças Armadas têm demonstrado o
sentido republicano do seu dever.
Na qualidade de Comandante Supremo das
Forças Armadas, sempre fiz questão de acompanhar de perto os assuntos das
nossas forças armadas. Empenhei-me na dignificação e prestígio da instituição
militar.
Os nossos militares merecem esta especial
atenção, porque conseguiram fazer calar as armas no solo pátrio de Amílcar
Cabral.
Quero aqui, render viva homenagem as
nossas gloriosas forças armadas e sobretudo na pessoa do seu líder General
Biaguê Nan Tan – Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, que apesar
de muita pressão, nunca hesitou no cumprimento do seu dever, ou seja, defender
o nosso país e o nosso povo, respeitando a constituição e as leis da República.
Por isso, apelamos a comunidade
internacional para analisar cuidadosamente o comportamento dos nossos
militares, que hoje assumem o papel republicano.
Com isso, pedimos um voto de confiança no
sentido de levantar as sanções impostas contra alguns oficiais.
Os nossos militares hoje, já não
representam nenhuma ameaça para o nosso povo e nem para a paz, porque estão
afastados de todas as querelas políticas. Hoje o combate político cinge-se
apenas na arena política, como em todas as democracias.
Jovens,
Mulheres e Homens Guineenses;
As eleições marcadas para o dia 18 de novembro
constituem uma oportunidade soberana para o povo avaliar a prestação dos partidos
políticos e a escolha daqueles que entendem que melhor podem servir os seus
anseios. As eleições são o momento no qual o povo é chamado a exercer
diretamente o poder, que lhe pertence, através da escolha dos seus
representantes.
Queria aproveitar este palco por se tratar
de um momento importante na vida do nosso país, para apelar aos guineenses,
onde quer que estejam, para se recensearem, porque sem recenseamento não
poderão exercer o direito de voto, o direito único de se expressarem nas urnas
a vossa vontade afirmação plena da cidadania. É um dos momentos de demonstração
de igualdade de oportunidade porque “É Guine ku nô djunta”, devemos todos ter o
direito de fazer as nossas próprias escolhas.
Igualmente apelar a GTAPE, a CNE, aos
Partidos Políticos com e sem assento parlamentar, aos Régulos, aos Chefes de
Tabanca, a Sociedade Civil e a todos os cidadãos para vigiarem o processo do
recenseamento, afim de evitar protestos no futuro. Tudo depende de nós, ou
seja, todo o processo do recenseamento está nas nossas próprias mãos.
Aproveito igualmente para apelar de que o
nosso voto deve ser em consciência e nunca ser objecto de troca quer pelos
favores, pela amizade, pelos laços familiares, pela tribo, religião, mas sim,
como guineense, que quer colocar no poder alguém capaz de governar o país com
total isenção, imparcialidade e garantir igualdade de oportunidade na educação,
na saúde e no trabalho, respeitando o princípio “Guiné de todos e para todos”.
Igualmente aos políticos faço votos que o
período da campanha decorra com serenidade, e que os partidos políticos
consigam esclarecer aos guineenses sobre os problemas reais do país e assinalar
o caminho e apontando soluções para os problemas identificados, porque
discordar não significa insultar.
Minhas
Senhoras e Meus Senhores;
Antes de terminar, gostaria de saudar a
todos os guineenses, os que vivem no país, como os que constituem a nossa
diáspora e também aos estrangeiros que escolheram a Guiné-Bissau como terra de
residência e de trabalho.
Aproveito igualmente, para deixar aqui o
testemunho do nosso reconhecimento e gratidão a todos os nossos parceiros
internacionais e regionais, que estiveram sempre ao lado da Guiné-Bissau,
apoiando o nosso país.
Aos parceiros internacionais envolvidos no
apoio ao processo eleitoral, o nosso muito obrigado.
Viva os 45 Anos da Independência!
Viva a Democracia!
Gloria eterna aos Heróis e Mártires da
Libertação!
Viva o Povo da Guiné-Bissau!
Que Deus abençoe a Guiné-Bissau e ao seu
Povo!