
“Não existe pedra sobre
pedra das nossas memórias: fotografias, filmes, livros, recordações de toda a
vida, haviam desaparecido. Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção,
mais por tradição (...) Desistir é perder e recomeçar é vencer”, assim escrevia
num texto autobiográfico a que chamou A sombra do pau torto, o guineense Carlos
Schwarz da Silva. O activista, chamemos-lhe assim, morreu na terça-feira passada, em
Lisboa, o funeral foi na quarta-feira no cemitério de Barcarena (Sintra). Se
fosse ele a escolher a designação para o que o seu amigo era, o cineasta
guineense Flora Gomes, teria dificuldade: “Ele é outra coisa. Era um agrónomo,
um nacionalista, um intelectual, um visionário”.
Carlos
Schwarz da Silva, guineense nascido em Farim, em 1949, só exerceu o nome
enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se
diplomava na luta estudantil contra a ditadura. Na Guiné Bissau, todos o
conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo
desenvolvimento. Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e
Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de
polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista
preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos
anciãos balantas, um “homem grande”.
"Eu
Sou África” é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP:
Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Cada um dos
filmes desta série retrata a vida e a obra de uma africana ou africano
implicado na história e no desenvolvimento social, político e cultural do país
onde nasceu. “Eu Sou África” revela dez heróis desconhecidos do grande público
e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. Na diversidade
das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a
emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a
esperança tem toda a razão de ser.
À
Isabel, sua mulher; e a seus fi lhos; bem como a todos os colaboradores da AD
um
grande abraço!
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