quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Até sempre Carlos Schwarz da Silva – (Eu Sou) Foste África

“Não existe pedra sobre pedra das nossas memórias: fotografias, filmes, livros, recordações de toda a vida, haviam desaparecido. Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção, mais por tradição (...) Desistir é perder e recomeçar é vencer”, assim escrevia num texto autobiográfico a que chamou A sombra do pau torto, o guineense Carlos Schwarz da Silva. O activista, chamemos-lhe assim, morreu na terça-feira passada, em Lisboa, o funeral foi na quarta-feira no cemitério de Barcarena (Sintra). Se fosse ele a escolher a designação para o que o seu amigo era, o cineasta guineense Flora Gomes, teria dificuldade: “Ele é outra coisa. Era um agrónomo, um nacionalista, um intelectual, um visionário”.


Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em Farim, em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento. Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um “homem grande”.

"Eu Sou África” é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP: Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de uma africana ou africano implicado na história e no desenvolvimento social, político e cultural do país onde nasceu. “Eu Sou África” revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser.

À Isabel, sua mulher; e a seus fi lhos; bem como a todos os colaboradores da AD

um grande abraço!

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