O presidente da Confederação Empresarial
da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP), Salimo Abdula, acusou
hoje os governos da organização de colocarem barreiras ao investimento ao
impedirem a livre circulação de bens e pessoas entre os Estados-membros.
"Um dos problemas que os
empresários têm identificado é a livre circulação de pessoas e bens e, que se
existisse, o investimento [entre os Estados-membros] podia aumentar
exponencialmente", declarou à Lusa Salimo Abdula, à margem de uma
conferência hoje em Maputo sobre negócios entre Portugal e Moçambique,
promovida pela Ordem dos Contabilistas Certificados e rádio TSF.
Dando o exemplo de Moçambique, onde é um
destacado empresário, o presidente da CE-CPLP salientou a necessidade de o seu
país começar a produzir mais para aumentar exportações, mas, para atingir esse
objetivo, "a livre circulação de pessoas e bens tem sido um grande
handicap".
Na sua intervenção durante a
conferência, Salimo Abdula já tinha pedido aos governos para porem "a mão
na massa" e resolverem este assunto.
"Criem 'autoestradas' e os
empresários tratam do resto", declarou, apelando ainda aos governos para
"eliminarem tabus" entre eles e que remetem para "40 anos
atrás".
O investidor, antigo presidente da
Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), comentou também a
atual instabilidade entre Governo e oposição da Resistência Nacional
Moçambicana (Renamo) estabelecendo a diferença entre "bocas entre
políticos" ou a resolução de problemas "com uma arma à cabeça".
Para Abdula, Moçambique "tem de
resolver definitivamente este problema", que diz ter mais eco no
estrangeiro do que no próprio país.
"Incomoda-me ter de fazer um
esforço titânico lá fora para explicar que o país está bem", declarou,
referindo-se aos seus contactos com empresários estrangeiros, embora tenha
admitido que as recentes confrontações entre Governo e Renamo já o tenham
levado a encerrar temporariamente unidades dos seus investimentos no país.
O Banco de Moçambique e o chefe de
Estado moçambicano assumiram na semana passada que o país enfrenta várias
dificuldades, traduzidas pela depreciação do metical face ao dólar, diminuição
de divisas, redução da ajuda externa e investimento estrangeiro e aumento da
dívida pública.
Na mesma altura, o FMI confirmou a
revisão em baixa da previsão de crescimento económico para 6,3% este ano e 6,5%
em 2016 e anunciou um empréstimo de 286 milhões de dólares (260 milhões de
euros) a Moçambique até 2017.
Salimo Abdula concordou hoje com o Presidente
moçambicano quando disse que o país consome mais do que produz e que este pode
ser um bom ponto de partida para uma nova atitude dos empresários.
"São boas perspetivas porque obriga
os empresários que têm dinheiro, ou fizeram dinheiro sem saber como, a
orientarem o negócio ocioso para o negócio produtivo", arrastando o
aumento do investimento, do emprego e das exportações, sustentou.
Na conferência de hoje, em que
participou também José Augusto Duarte, embaixador de Portugal em Maputo, Paulo
Sousa, diretor-geral do banco BCI, Rodrigo Rocha, representante da Câmara de
Comércio Portugal-Moçambique, e Domingues Azevedo, bastonário da Ordem dos
Contabilistas Certificados, foi destacado por todos os intervenientes a
vantagem competitiva da língua portuguesa.
O embaixador português advertiu porém
que a língua pode servir para garantir uma posição de vantagem à partida mas
não à chegada e precisa de ser acompanhada de outros fatores para se alcançar o
sucesso.
A agricultura, o agronegócio,
piscicultura, serviços, turismo e também a educação foram apontados como os
setores mais necessitados de investimento e nos quais Portugal pode ter uma
vantagem competitiva.
A conferência "Moçambique -
Portugal, Reforçar as vantagens competitivas" insere-se no ciclo
"Negócios em Português" que a Ordem dos Contabilistas Certificados e
a TSF já realizaram em São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, e que, depois de
Moçambique, deverá passar pelos restantes países de língua portuguesa. Com a Lusa
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