Em linguagem simples e poética, familiar
aos discípulos, Jesus prossegue os ensinamentos sobre a realidade profunda da
sua união a Deus Pai e da relação entre aqueles que acreditam na sua mensagem.
Recorre a uma imagem tirada da vida agrícola – a da vinha em que se destaca uma
videira por ser única, verdadeira, autêntica. E extrai, de forma singular, as
“lições” que ela insinua, desvendando o seu sentido profundo. Jo 15, 1-8
Os discípulos, como homens da Galileia,
estavam habituados a ver os campos e as vinhas, os trabalhos dos agricultores e
vinhateiros, os cuidados a ter com cada vide. E a aguardar, em paciente espera,
o tempo da vindima, a apanha das uvas amadurecidas desejadas. Certamente, não
teriam qualquer dificuldade, em entender o que lhes era confidenciado em
ambiente tão marcante, como o da “ceia de despedida”, em que Jesus realça o
amor como realidade “envolvente” de todos.
A pertença dos ramos à videira é “o
ponto de partida” para visualizar a união vital dos discípulos a Jesus. Ramos
sem tronco que os suporte e sem seiva circulante que os irrigue, não perduram e
definham, morrem na esterilidade. Tronco sem ramos fica limitado, desfigurado,
improdutivo. A união estreita entre ambos é garantia da circulação da seiva
nutritiva que dará vida aos cachos de uvas apetecidas.
João, o autor da narrativa, explicita o
alcance desta união, usando o verbo permanecer. Como o Pai está em Mim e eu
estou no Pai, assim vós também – diz Jesus. E a partir desta comunhão única,
afirma a realidade admirável da sua relação com os discípulos que aceitam viver
a sua mensagem, que permanecem no seu amor. Paulo, numa das suas cartas,
recorre ao termo de “enxertia” para expressar esta mesma realidade. Pelo
enxerto logrado, a cepa expande-se em rebentos de vida, em ramos de esperança,
em frutos de alegria exuberante.
Sem a compreensão deste enraizamento
original único, a alegoria pode ser interpretada de modo desvirtuada: Dar muito
fruto, produzir em abundância e eficiência, incrementar o rendimento, melhorar
os meios de acumulação, garantir o consumo; ou então, reduzir, ao âmbito
privado, o uso dos bens alcançados, comprazer-se em satisfação espiritual pelo
êxito obtido, resguardar-se de todo o incómodo que possa surgir com a penúria
dos outros.
Permanecer nele é ser-lhe fiel, estar
unidos uns aos outros, como ele está com os seus discípulos, viver a missão que
não tem fronteiras nem limites, a não ser os do tempo. Dando muito fruto, vos
tornareis meus discípulos – garante, sem rodeios, para alegria de todos. E de
que frutos se trata? Os mesmos que nos advêm da sua vida e dos seus
ensinamentos: amor de doação incondicional, acolhimento de todos como irmãos
entre si e filhos do mesmo Deus Pai, apreço e respeito pela dignidade de cada
um, confiança nas capacidades humanas e no seu desenvolvimento, justiça e
equidade nas relações do trabalho e na repartição dos bens, sentido do futuro
que, entretanto, vai emergindo, de forma germinal, em atitudes e gestos com
esta dimensão e qualidade, convivência alicerçada no reconhecimento da nossa
comum humanidade que, em Jesus Cristo, é reforçada pelo seu exemplo e pela sua
intervenção de salvação.
São frutos para os outros. A eficácia, o
progresso e o êxito designam-se, no Evangelho, por espera activa, serviço
generoso, simplicidade discreta, alegria confiante. O protagonismo a Deus
pertence, e a nós a cooperação responsável, livre, inteligente.
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