segunda-feira, 27 de maio de 2019

Maior desafio do continente africano é conseguir travar o neocolonialismo e a dependência externa, afirma sociólogo


O maior desafio de Africa é conseguir travar o neocolonialismo e a dependência externa, considerou hoje o sociólogo Nardi Souza, realçando, que a cooperação que os líderes africanos têm estabelecido com as potências mundiais “hipotecam o presente e futuro do continente”.

Nardi Souza fez estas considerações em declarações à Inforpress, no âmbito do dia de África, que se celebra a 25 de Maio, tendo sublinhando, na ocasião, que ao comemorar a efeméride, todos os africanos devem reflectir e estar conscientes dos desafios e as inúmeras preocupações que afligem o continente.

O sociólogo lamentou que, “um continente que é o berço da civilização e rico em matérias-primas” esteja ainda a depender da ajuda externa das potências colonizadoras mundiais, “que se instalaram em Africa”, mostrando-se por outro lado céptico que isso venha acontecer tão cedo, isto porque, observou, “quando as nações africanas ousaram sair do neocolonialismo ocidental apareceu a China, com as suas ofertas e acordos”.

“O africano não usufrui das suas riquezas, a Costa do Marfim é um dos maiores produtores de cacau, poucos africanos comem chocolate de qualidade, o continente é o maior produtor de diamantes, mas as mulheres africanas não recebem anéis de diamantes, é o maior produtor do ouro, os nossos bancos não têm ouro, somos dependentes da ajuda externa”, enfatizou.

Para ultrapassar os desafios, no entender de Nardi Souza, o continente africano terá que deixar de “imitar” as potências mundiais, defendendo que haja sim, mais união entre os países e os blocos regionais e uma maior valorização da cultura e história africana.

“O continente tem de deixar de olhar para fora e passar a olhar para dentro e dar espaço à sua juventude, evitar a descriminação dos próprios africanos, temos que investir não só na tecnologia e nos meios de produção moderno, mas também no ensino da história africana porque ainda somos um povo com a autoestima baixa e muitos preconceitos”, salientou, referindo, no entanto, que há sinais positivos de alguns países que estão a liderar a modernização e se desenvolvendo.

Na opinião deste sociólogo cabo-verdiano, o que impede a Africa de ser um continente próspero e desenvolvido é o facto de os africanos não terem “identidade e agenda”, lembrando, neste contexto, que todos os líderes africanos, que procuraram criar uma agenda para a Africa “foram eliminados” pelas potências colonizadoras, que precisam dos recursos estratégicos do continente por um preço mais barato.

Prosseguindo com o seu raciocínio, considerou a França como sendo “a grande inimiga da Africa”, isto porque, elucidou, este país europeu tem 16 bases militares instaladas no continente e recebe cerca de 500 mil milhões de euros por ano dos países africanos, lamentando que os africanos têm que recorrer a empréstimos quando precisam deste dinheiro.

“A juventude quer assumir o destino do continente e poderá haver choque no futuro porque os africanos não estão satisfeitos com a fuga da riqueza da Africa, com a pobreza, descriminação dos africanos”, ressaltou.

Lançando um olhar sobre a questão da integração regional, afirmou que Cabo Verde já foi “mais africano”, que através de Amílcar Cabral, que com as suas bases filosóficas sobre a africanização dos espíritos, fez uma luta brilhante, mas hoje parece que não tem uma verdadeira agenda voltada para Africa.

“Não temos agenda, mas temos oportunidades e Cabo Verde deve-se posicionar e penso que se não houver a nível político uma estratégia, o que é mau, porque as cimeiras servem para facilitar o caminho, a sociedade civil está a despertar e mais cedo ou mais tarde a própria dinâmica da sociedade civil vai avançar”, realçou.

A África, conforme Nardi Souza, é o presente e o futuro da humanidade, pelo que, defendeu, tem que haver uma nova liderança, e mudanças de paradigmas, isto, frisou, num continente em que muitos africanos são “divisionistas” e não conseguem se unir mesmo pregando a unidade.

“Há muito separatismo em África, mas acredito que se houver liderança com muita cultura sobre a ancestralidade, história, espiritualidade africana, investimento na educação, justiça, capacidade de amar o seu povo e de defender os interesses dos africanos, poderemos ser um continente muito desenvolvido em vários aspectos”, concluiu, indicando, entretanto, que o caminho a ser percorrido é longo e cada um deve fazer a sua parte na construção de uma Africa melhor para os próprios africanos.

O dia 25 de Maio é considerado o Dia de África porque foi neste dia, em 1963, que se criou a Organização de Unidade Africana (OUA), na Etiópia, com o objectivo de defender e emancipar o continente africano.

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