O maior desafio de Africa é conseguir travar o neocolonialismo e a dependência externa, considerou hoje o sociólogo Nardi Souza, realçando, que a cooperação que os líderes africanos têm estabelecido com as potências mundiais “hipotecam o presente e futuro do continente”.
Nardi Souza fez estas considerações em
declarações à Inforpress, no âmbito do dia de África, que se celebra a 25 de
Maio, tendo sublinhando, na ocasião, que ao comemorar a efeméride, todos os
africanos devem reflectir e estar conscientes dos desafios e as inúmeras
preocupações que afligem o continente.
O sociólogo lamentou que, “um continente
que é o berço da civilização e rico em matérias-primas” esteja ainda a depender
da ajuda externa das potências colonizadoras mundiais, “que se instalaram em
Africa”, mostrando-se por outro lado céptico que isso venha acontecer tão cedo,
isto porque, observou, “quando as nações africanas ousaram sair do
neocolonialismo ocidental apareceu a China, com as suas ofertas e acordos”.
“O africano não usufrui das suas riquezas,
a Costa do Marfim é um dos maiores produtores de cacau, poucos africanos comem
chocolate de qualidade, o continente é o maior produtor de diamantes, mas as
mulheres africanas não recebem anéis de diamantes, é o maior produtor do ouro,
os nossos bancos não têm ouro, somos dependentes da ajuda externa”, enfatizou.
Para ultrapassar os desafios, no entender
de Nardi Souza, o continente africano terá que deixar de “imitar” as potências
mundiais, defendendo que haja sim, mais união entre os países e os blocos
regionais e uma maior valorização da cultura e história africana.
“O continente tem de deixar de olhar para
fora e passar a olhar para dentro e dar espaço à sua juventude, evitar a
descriminação dos próprios africanos, temos que investir não só na tecnologia e
nos meios de produção moderno, mas também no ensino da história africana porque
ainda somos um povo com a autoestima baixa e muitos preconceitos”, salientou,
referindo, no entanto, que há sinais positivos de alguns países que estão a
liderar a modernização e se desenvolvendo.
Na opinião deste sociólogo cabo-verdiano,
o que impede a Africa de ser um continente próspero e desenvolvido é o facto de
os africanos não terem “identidade e agenda”, lembrando, neste contexto, que
todos os líderes africanos, que procuraram criar uma agenda para a Africa
“foram eliminados” pelas potências colonizadoras, que precisam dos recursos
estratégicos do continente por um preço mais barato.
Prosseguindo com o seu raciocínio,
considerou a França como sendo “a grande inimiga da Africa”, isto porque,
elucidou, este país europeu tem 16 bases militares instaladas no continente e
recebe cerca de 500 mil milhões de euros por ano dos países africanos,
lamentando que os africanos têm que recorrer a empréstimos quando precisam
deste dinheiro.
“A juventude quer assumir o destino do
continente e poderá haver choque no futuro porque os africanos não estão
satisfeitos com a fuga da riqueza da Africa, com a pobreza, descriminação dos
africanos”, ressaltou.
Lançando um olhar sobre a questão da
integração regional, afirmou que Cabo Verde já foi “mais africano”, que através
de Amílcar Cabral, que com as suas bases filosóficas sobre a africanização dos
espíritos, fez uma luta brilhante, mas hoje parece que não tem uma verdadeira
agenda voltada para Africa.
“Não temos agenda, mas temos oportunidades
e Cabo Verde deve-se posicionar e penso que se não houver a nível político uma
estratégia, o que é mau, porque as cimeiras servem para facilitar o caminho, a
sociedade civil está a despertar e mais cedo ou mais tarde a própria dinâmica
da sociedade civil vai avançar”, realçou.
A África, conforme Nardi Souza, é o
presente e o futuro da humanidade, pelo que, defendeu, tem que haver uma nova
liderança, e mudanças de paradigmas, isto, frisou, num continente em que muitos
africanos são “divisionistas” e não conseguem se unir mesmo pregando a unidade.
“Há muito separatismo em África, mas
acredito que se houver liderança com muita cultura sobre a ancestralidade,
história, espiritualidade africana, investimento na educação, justiça,
capacidade de amar o seu povo e de defender os interesses dos africanos,
poderemos ser um continente muito desenvolvido em vários aspectos”, concluiu,
indicando, entretanto, que o caminho a ser percorrido é longo e cada um deve
fazer a sua parte na construção de uma Africa melhor para os próprios
africanos.
O dia 25 de Maio é considerado o Dia de
África porque foi neste dia, em 1963, que se criou a Organização de Unidade
Africana (OUA), na Etiópia, com o objectivo de defender e emancipar o
continente africano.
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