“Quem está desperto para esta presença dinâmica do Espírito vive na alegria e na confiança, aprecia e valoriza a rectidão da consciência e a sabedoria do coração, é cada vez mais humano no seu ser e no seu agir.”
Jesus está na hora das grandes
confidências, pois é o tempo da despedida, de dizer aos discípulos o que lhe
vai no coração, e quer deixar como distintivo da sua identidade. Em diálogo
franco, faz declarações que suscitam perguntas. Judas, não o Iscariotes, não
entende como é que Jesus se vai manifestar, nem porque escolhe a quem o irá
fazer. E formula a correspondente pergunta a que Jesus dá resposta, abrindo
horizontes surpreendentes e interpelantes. Os contemplados são aqueles que
acolhem o seu amor e guardam a sua palavra; a estes, Jesus dá a garantia de
serem morada de Deus e de receberem o Espírito Santo. Assim, terão companhia em
todas as circunstâncias da vida e nada os poderá perturbar. Assim, a saudade da
despedida é compensada pela nova forma de presença. E Jesus destaca a alegria
como testemunho da fé dos que compreendem o alcance destes factos.
Somos a morada de Deus que vem viver na
nossa consciência, no mundo interior de todos os que são fiéis à palavra de
Jesus, Seu Filho. Esta opção de Deus evidencia a direcção correcta da
realização humana. É a partir de dentro, da interioridade, que se faz a
humanização, se alimenta a relação, se aprende a amar, a servir, a crescer na
grandeza de ser pessoa, a viver em comunidade. É a partir da consciência
iluminada e esclarecida por Deus, mediante os ensinamentos de Jesus e a
sabedoria das culturas humanizadas, que têm consistência as opções e os
critérios condicionantes das nossas atitudes pessoais e colectivas. É a partir
das atitudes que a sociedade manifesta os valores predominantes e a qualidade
do sentido da convivência entre os seus membros. Que contraste coma situação
actual do nosso mundo?!
“A comunidade que segue Jesus não
caminha para o fracasso, pois a meta é a vida… Jesus convida a percorrer um
caminho historicamente concreto. Inspirada nos sinais que Jesus realizou, a
comunidade cristã criará novos sinais dentro do mundo, abrindo espaços de
esperança e vida fraterna”. Bíblia Pastoral, comentário cap. 14 de João.
A afirmação é clara e o convite
interpelante. Procura dentro de ti e encontrarás o teu melhor tesouro, aquele
que te ajuda a ser mais humano, a saber conviver com maior satisfação, a sentir
a realização progressiva da felicidade a que aspiras. Não te alienes nem deixes
alienar ou anestesiar.
Esta orientação fundamental é,
frequentemente, contrariada por muitos factores. E surge a preferência pela
exterioridade, pela aparência de rostos embelezados, pela dispersão de
solicitações encantadas. Assim, a pessoa corre o risco de viver distraída de si
mesma, de banalizar a nobreza dos seus sentimentos e de inverter a escala dos
valores que pautam a sua vida. Segue o cortejo das satisfações de momento, do
ritmo dos humores, da verdade precária e subjectiva, da força imperante da
paixão incontrolada. E vai-se transformando num ser agitado pelo “vento”,
dependente do impulso da sedução, esquecida do seu ser mais profundo que, de
vez em quando, a consciência lhe segreda e o coração vazio reclama.
Conhecedor da fragilidade humana, Jesus
cumpre a promessa de enviar o Espírito Santo para recordar e ensinar. Recordar
é tornar presente e fazer passar pelo coração a beleza da dignidade humana,
como espelho do rosto de Deus, é trazer ao coração e apreciar a sabedoria da
consciência que, em tudo, procura agir rectamente. Ensinar é mostrar à
inteligência o que está contido nos sinais realizados por Jesus e agora
actualizados na história. São sinais de atenção à pessoa e ao seu contexto, à
verdade que liberta, à solidariedade que irmana, à oração que eleva, a Deus que
sempre nos acompanha.
Quem está desperto para esta presença
dinâmica do Espírito vive na alegria e na confiança, aprecia e valoriza a
rectidão da consciência e a sabedoria do coração, é cada vez mais humano no seu
ser e no seu agir.
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