A Guiné Bissau precisa de instituições estáveis legitimadas pelo voto para regressar à normalidade constitucional. O apelo é do antigo presidente cabo-verdiano, Pedro Pires.
O
antigo presidente de Cabo Verde considera crucial e decisiva a realização das
eleições legislativas e presidenciais do próximo dia 13 na Guiné-Bissau.
Pedro
Pires acredita "que é indispensável a realização de eleições e o respeito
pelos resultados é fundamental", e argumenta: "Porque a Guiné-Bissau
precisa de instituições legítimas e legitimadas pela vontade das suas
populações."
Pedro
Pires, distinguido em 2011 com o prémio Ibrahim pela liderança e boa
governação, disse que só assim a Guiné-Bissau poderá manter relações estáveis
com os seus vizinhos e parceiros.
O
ex-presidente de Cabo Verde considera que "os vizinhos e os parceiros
esperam que o país venha a dotar-se de instituições legítimas e respeitadas
para que possa resolver as relações políticas, económicas e outras, na base de
interlocutores legitimados e credenciados pelo voto popular."
A
Guiné-Bissau precisa de uma nova liderança, mais capaz – disse ainda Pires–,
reconhecendo, no entanto, que a grande responsabilidade pelo futuro da Guiné
Bissau está nas mãos dos guineenses.
Narcotráfico, um problema de todos
Pedro
Pires falou à DW à margem do III Encontro Triângulo “América Latina, Europa e
África”, fórum onde lançou como desafio a necessidade de ações conjuntas entre
as respetivas regiões para o combate à criminalidade organizada e ao tráfico
ilícito.
Trata-se
de um problema sério que afeta a América do Sul e África, referiu depois quando
falava com os jornalistas na qualidade de membro de uma comissão regional que
reflete sobre o combate ao narcotráfico.
A
prática que também afeta países como a Guiné Bissau, é mais do que um problema
regional, segundo a análise da investigadora portuguesa Elisabete
Azevedo-Harman: "O narcotráfico não é apenas um problema da Guiné Bissau,
é também regional, europeu, dos Estados Unidos da América, da América
Latina."
Por
isso ela defende que "a comunidade tem de perceber que, ou resolve
preventivamente, ou que só está a alimentar, adiando, um problema que não
atinge só 1 milhão de guineenses, atinge neste momento a segurança regional e
internacional."
Para
esta professora ligada aos estudos africanos em Londres, não se trata apenas do
combate ao narcotráfico, "há também a questão do emprego, a estrutura
económica e social está muito debilitada neste momento, e daí tornar-se
vulnerável a forças criminosas, como é a questão do narcotráfico", remata.
Elisabete
Azevedo espera que as eleições ocorram com normalidade, mas aponta a existência
de algumas variáveis de instabilidade, incluindo a morte do ex-presidente Kumba
Ialá.
Tudo começa com reforma no exército
Francisco
Henriques da Silva, que foi embaixador de Portugal em Bissau entre 1997 e 1999,
considera difícil uma governação estável no país sem uma efetiva reforma das
Forças Armadas: "E que é necessária uma reforma das forças armadas.
Portanto, é preciso haver um apoio externo para que isso seja feito, porque
estou convencido de que os guineenses sozinhos não conseguem lá chegar."
O
ex-diplomata e algumas altas patentes militares que participaram esta
segunda-feira (07.04.) numa mesa-redonda sobre o período pós-eleitoral na Guiné
Bissau defendem a presença no terreno de uma força internacional neutra sob a
tutela das Nações Unidas.
Também
dizem ser fundamental que as Forças Armadas estejam, de facto, subordinadas ao
poder político, para mudar o ciclo de golpes de Estado e de violência
permanente entre as forças políticas.
A
mesa-redonda, na Universidade Católica, tinha como orador principal o almirante
guineense, Zamora Induta, ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, que
recusa fazer declarações aos jornalistas.
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