terça-feira, 26 de maio de 2015

A surpresa do Evangelho

Papa Francisco, na ilha de Lampedusa, lança ao mar
 uma coroa de flores, em memória das vítimas da 
emigração clandestina
O Papa Francisco continua a surpreender e a cativar as multidões

Por, Frei Severino

 O Papa Francisco continua a surpreender e a cativar as multidões. Como Jesus, no Evangelho: Lc 6, 17-18.

A opção pelos pobres, pelos últimos, pelos que não têm nome nem direitos, desejada pelo Concílio Vaticano II, começa a tomar corpo e abre as portas para outra sociedade eclesial e social. A viagem do Papa a Lampedusa, a ilha italiana do mediterrâneo onde continuam a desembarcar milhares de pobres pessoas famintas de pão e de liberdade, é o sinal mais significativo desta mudança. No começo do seu pontificado, o Papa Francisco afirmava: “Gosto (e quero) uma Igreja pobre e pelos pobres”. Os gestos simples do Papa, iluminados pela luz do Evangelho, adquirem o encanto e a admiração dos gestos de Jesus, que “reunia multidões desejosas de o ouvir e de ser curadas dos seus males”.

Já nos tínhamos esquecido da beleza e da força do Evangelho; ele estava manietado por uma rede de rituais humanos que acabavam de o tornar estático e ineficaz. Precisávamos de essencialidade, daquela espiritualidade que sabe infundir luz, força e verdade à nossa pobre humanidade. Dizia o Papa em Lampedusa: “Muitos de nós, eu inclusive, estamos desorientados; já não estamos atentos ao mundo em que vivemos; não respeitamos nem guardamos o que Deus criou para todos e já não somos capazes de cuidar uns dos outros... perdemos a responsabilidade pelo próximo, caímos na globalidade da indiferença, não sabemos ser solidários e nem sequer sabemos chorar os mortos que não têm nome”.

O Papa Francisco confiou esta sua preocupação aos jovens da JMJ do Rio de Janeiro. Eles entenderam e, por isso, acorreram em enorme multidão. São as multidões bíblicas - evangélicas, sedentas de liberdade e de esperança. São as multidões para as quais Deus enviou o seu Filho Jesus a fim de elas encontrarem “alívio e descanso” (Mt 11, 28-30).

Estamos a celebrar o Ano da Fé e em toda a Igreja fala-se de nova evangelização, de revitalização das comunidades cristãs, de um anúncio e de um testemunho credíveis da boa nova do Evangelho. Organizam-se cursos e palestras, promovem-se iniciativas e eventos a fim de despertar interesse e adesão à Igreja. Tudo isto é muito bom, mas com uma condição: que cada um se deixe interpelar pela Palavra do Senhor, reconheça a sua miséria e se abra ao dom da misericórdia do Senhor. É o que está a dizer e a fazer o Papa Francisco: poucas palavras, mas essenciais, e muitos gestos profundamente humanos e significativos.


O que é que, afinal, o Papa disse aos jovens no Rio de Janeiro? Simplesmente isto: “Deixai-vos cativar por Cristo! Por favor, não deixeis que sejam outros os protagonistas da mudança; vós sois que tendes o futuro, através de vós entra o futuro no mundo”. Numa sociedade envelhecida no espírito, oprimida por um egoísmo insuportável, incapaz de encontrar o equilíbrio entre as gerações, a mensagem mais revolucionária que se possa imaginar é oferecer a todos o entusiasmo e a capacidade de sonhar, própria dos jovens, mas, também, da juventude que está em cada um de nós.

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